quarta-feira, 25 de maio de 2016

CURSO DE ILUSTRAÇÃO EDITORIAL
A Ilustração Literária
LUIS TRIMANO
Ilustrações para:
"A Almofada de Penas" de Horacio Quiroga
"El Barco" edição virtual
Rio de Janeiro - 2016
   

HORACIO QUIROGA 
Horacio Silvestre Quiroga Fortaleza
Salto, Uruguai 1878 - Buenos Aires, Argentina 1937
Foi um escritor uruguaio, famoso por seus contos 
de humor negro, que geralmente tratavam de eventos fantásticos e macabros na linha de Edgar Allan Poe,
e de temas relacionados à sobrevivência na selva,
sobretudo na região da provincia de Misiones, na Argentina,
onde o escritor viveu parte de sua vida, marcada por acontecimentos trágicos. A morte violenta do pai, o suicídio
do padrasto, o falecimento de dois de seus irmãos,
o suicídio da primeira esposa e, posteriormente à sua própria
morte, também por suicídio ao saber que sofria
de um cáncer gástrico.
Conviveu em Paris com Rubém Darío, foi professor 
de castelhano em Buenos Aires, e trabalhou como fotógrafo
em uma expedição as ruinas jesuíticas de Misiones.
Algumas de suas obras mais conhecidas: "Anaconda"  -
"Os Recifes de Coral" (1901) - "Contos de Amor de Loucura e de Morte" (1917) - "Contos da Selva" (1918).

dados extraídos da Wikipédia

Horacio Quiroga em Misiones, Argentina


Horacio Quiroga em Misiones, Argentina


A ALMOFADA DE PENAS
Horacio Quiroga
 

Sua lua-de-mel foi um longo estremecimento.
Loura, angelical e tímida, o temperamento duro
do marido gelou suas sonhadas criancices de noiva.
Ela o amava muito, no entanto, as vezes, sentia
um ligeiro estremecimento quando, voltando a noite
juntos pela rua, olhava furtivamente para a alta estatura
de Jordão, mudo havia mais de uma hora.
Ele, por sua vez, a amava profundamente, sem demostrá-lo.
Durante três meses, tinham casado no mes de abril,
viveram uma felicidade especial. 
Sem dúvida ela teria desejado menos severidade
nesse rígido céu de amor, mais expansiva e incauta ternura,
mas a impassível expressão do seu marido a reprimia
sempre. A casa em que viviam influenciava um pouco
os seus estremecimentos. A brancura do pátio silencioso,
frisos, colunas e estátuas de mármore, produziam uma outonal impressão de palácio encantado.
Por dentro, o brilho glacial do estuque, sem o mais leve
arranhão nas altas paredes, alentava aquela sensação
de frío desagradável. Ao atravessar um quarto para outro,
os passos encontravam eco na casa toda, como se um longo
abandono tivesse sensibilizado a sua ressonância.
Nesse estranho ninho de amor, alicia passou todo o outono.
Porém tinha terminado de baixar um véu sobre os seus antigos sonhos, e ainda vivia dormida na casa hostil,
sem querer pensar em nada até o marido chegar.
Não é comum que emagrecesse. Teve um ligeiro ataque
de gripe que se arrastou insidiosamente dias e mais dias,
Alicia não melhorava nunca.
Por fim uma tarde pôde sair ao jardim apoiada do braço dele.
Olhava indiferente para um e outro lado. De repente Jordão,
com profunda ternura, passou a mão pela sua cabeça,
e Alicia em seguida se quebrou em soluços e o abraçou.
Chorou demoradamente seu discreto pavor, redobrando
o choro diante da menor tentativa de caricia.
Depois, os soluços foram-se acalmando, e ainda ficou
um longo tempo escondida no seu ombro, quietinha,
sem pronunciar palavra.

A Almofada de Penas - detalhe


A Almofada de Penas - detalhe


A Almofada de Penas - hidrográfica e esferográfica


A Almofada de Penas - detalhe


A Almofada de Penas - detalhe