terça-feira, 25 de outubro de 2016

O retrato acima, está reproduzido exatamente
do mesmo tamanho que a imagem real. 
Embora não seja considerado um dos melhores
desenhos de Ingres dessa época, é muito útil
para nossos propósitos, pois contem uma série
de pistas visuais que sugerem ter ele usado 
a câmara lúcida - um instrumento feito para os artistas
em 1806, sobretudo como um dispositivo de medida
para o desenho - para criá-lo.
Você irá deparar com a expressão "fazer a olho",
ao longo desse livro. Com isso me refiro ao modo
como o artista se senta na frente de um modelo
e desenha ou pinta um retrato usando apenas sua mão
e olho e nada mais, observando a figura e tentando
depois recriar a semelhança no papel ou na tela. 
Ao fazê-lo, ele "tateia" a forma que vê diante de si.
Mas a presteza dos traços de Ingres nesse desenho
não parece ter sido tateada. De tão precisa e exata 
que é a forma. Imagino que ele tenha traçado primeiro
a cabeça, observando a senhora por uma câmara lúcida
e fazendo algumas notações no papel, fixando a posição
do cabelo, dos olhos, das narinas e das comissuras da boca
(note as profundas sombras). Isso tal vez lhe tenha tomado
alguns minutos. Depois, terminou de desenhar o rosto
pela observação, a olho - a delicadeza do retrato sugere
que gastou uma hora ou duas fazendo isso. Mais tarde,
tal vez depois do almoço, fez as roupas, mas para isso
há provavelmente de ter movido sua câmara lúcida
ligeiramente. 
É agora que notamos que a cabeça da senhora
parece muito grande se comparada aos ombros e mãos.
Se Ingres moveu sua câmara lúcida para incluir as roupas,
uma ligeira mudança teria ocorrido, o que explica
a diferença na escala que notamos. 

David Hockney 

Nenhum comentário: