quinta-feira, 17 de março de 2016

EPÍLOGO

"E só eu escapei para contar"
                                            Jó

Daquele punhado de bravos marinheiros que compunham 
a tripulação do Pequod só um conseguiu sobreviver
à tragédia marítima: eu. E nem mesmo consigo compreender
como pude salvar-me...
No desespêro daqueles momentos dramáticos, agarrei-me
àquele estranho salva-vidas de que já lhes falei: o caixão
de Queequeg. O torvelinho produzido pelo afundamento do navio deve ter-me jogado contra aquela singular bóia. 
E, agarrado ao ex-caixão do meu inesquecível amigo, flutuei
à deriva durante um dia inteiro, contemplando apavorado
o incessante desfile de tubarões, inofensivos já, devido,
sem dúvida, ao seu recente festim de carne humana.
Os esqualos deslizavam ao meu lado, indiferentes como
morsas, sem sequer me roçar.
Quanto tempo decorreu? Jamais soube. Só me recordo
que, quando já desesperava de poder salvar-me, avistei,
ao longe a inconfundível silueta de um navio. Era o Raquel,
que, aproximando-se do lugar onde eu me encontrava,
me recolheu a tempo de evitar que, desfalecido, 
me afundasse definitivamente.
Sim, era o Raquel, que continuava inútil e tenazmente
a sua dramática busca, vagueando sempre de um lado 
para o outro, como uma gaivota errante, atrás dos rastos de seus filhos desaparecidos.
E só pode encontrar um outro órfão...  
   

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