terça-feira, 15 de dezembro de 2015

NINGUÉM MORA JÁ NA CASA

Ninguém mora já na casa, me disses, todos foram embora.
A sala, o pátio, mentira deserta, já não é, 
por tudo o que nos resta.
E eu digo: quando alguém sai, alguém fica.
O ponto por onde um homem passou não está mais sozinho.
Só está só, de solidão humana, o lugar 
onde nenhum homem jamais esteve.
As casas novas estão mais mortas que as velhas,
porque suas paredes são feitas de pedra ou aço,
mas não de homens.
Uma casa vem ao mundo, não quando acaba de ser construida, mas quando começa a ser habitada.
A casa vive apenas de homens, como um túmulo.
Daí a semelhança entre uma casa e um túmulo.
Apenas que a casa vive da vida humana, enquanto que o túmulo se nutre da morte do homem. Assim a primeira está em pé, enquanto que o segundo está deitado.
Todos deixaram a casa, na verdade, todos se foram,
realmente, mas a memória deles permanece
por toda a casa.
Todos se foram, de comboio, ou de avião ou de cavalo,
a pé ou rastejando.
O que fica na casa é o agente do corpo.
Os momentos, os beijos, os perdões, os crimes, os labios,
os olhos, o coração, não interessam mais. As negações e as afirmações, os bons e os maus, se dispersaram.
O que fica na casa é o objecto do ato.

 César Vallejo
tradução: Ezequiel de Rosso

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