quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

UM DIA, UM GATO

Meus sapatos de feltro são canoas que bóiam
na confusão do asfalto. Vejo aflitos, esbarro
em monstros, quase atinjo recém-nascidos largados
no rio caudaloso, mas os braços, o instinto,
fazem-se de remos e desviam meus passos.
Nem mesmo a súbita beleza me prende,
que passa em forma de pessoa. Navego
nos mocasins do ópio da eternidade, meio tonto
com o tinir dos talheres no restaurante.

TRIMANO - SÉRIE RADIAL X


Enfrento a sopa de gravatas. Mariscos
ficam no casco das canoas com tampas
de cerveja e pontas de cigarro. O caldo
engrossa, um fio de batom sofistica
a boca áspera das águas fumacentas e pretas
que não retêm, porém, minha navegação pelas brechas.

TRIMANO - SÉRIE RADIAL X


TRIMANO - SÉRIE RADIAL X


Sigo sem deus, alimentado. E sem nexo,
pensativo no leme dos sapatos querendo
chorar de impotência ante a crueldade. A polícia
no entanto surge e alinha os passos
de porrete na mão. Buzinam insistentemente ao redor
de algum corpo caído, embrulho incômodo. Ondas
de turbulência me eliminam da cena
e dobro sem querer uma esquina, onde encontro um gato.

Leonardo Fróes

TRIMANO - SÉRIE RADIAL X


TRIMANO - SÉRIE RADIAL X


METAFÍSICA E BISCOITO

no meio dos latidos da noite
quando o silêncio atinge a qualidade
dos latidos da morte e as folhas caem
impressionalvelmente sangradas;
no meio frio de um colchão inquieto
com os olhos pensativos resvalando no teto
e as mãos descendo pelo corpo
como a buscar sua realidade longínqua

TRIMANO - SÉRIE RADIAL X


TRIMANO - SÉRIE RADIAL X


TRIMANO - SÉRIE RADIAL X


quando os morcegos da melancolia
atravessam sem bater entre as árvores
e alguma coisa enraizada confusa
parece brotar de novo entre as pernas;
nesse espaço fundamental reduzido
onde as idéias se sucedem largadas
numa associação intempestiva
que é impossível deter ou compreender

TRIMANO - SÉRIE RADIAL X


TRIMANO - SÉRIE RADIAL X


no cerco sem limite de um quarto
que roda em varios mundos e alterna
com a sensação de não haver nada disso
que dá contorno e forma à própria insônia -
o homem dá um salto e se puxa
para fora do pântano
e devora um biscoito
e bebe um copo dágua e acende
um cigarro e mais outro.

Leonardo Fróes

TRIMANO - SÉRIE RADIAL X


CURSO DE ILUSTRAÇÃO EDITORIAL
POP ART ANGLO-AMERICANA

LICHTENSTEIN - "Metralhadoras" - detalhe


EDWARD RUSCHA - USA 1937

RUSCHA - "Posto de gasolina em Amarillo - Texas" - acrílico 1963


ROY LICHTENSTEIN - USA 1923-1997

LICHTENSTEIN - acrílico


LICHTENSTEIN - acrílico


JAMES ROSENQUIST 

ROSENQUIST - óleo 1967


ROSENQUIST - mural - óleo 1962-63


GEORGE SEGALL - USA 1924-2000

SEGALL - Instalação


SEGALL - "Posto de gasolina" - instalação 1963


MEL RAMOS - USA 1935

MEL RAMOS - "Miss del Monte" - óleo


GERALD LAING - Inglaterra 1936

LAING - "C.T. Strokers" - serigrafia 1964


ROY LICHTENSTEIN - USA 1923-1997

LICHTENSTEIN - Cartaz de exposição - anos 60-70


LICHTENSTEIN - "Templo" - serigrafia


PETER PHILLIPS - Inglaterra 1939

PHILLIPS - óleo 1964


JAMES ROSENQUIST - USA 1933

ROSENQUIST


ROSENQUIST - óleo 1965


ROSENQUIST - "US Air Force" - mural 1965


ROSENQUIST - mural


ROSENQUIST


ROSENQUIST - óleo 1962


ROSENQUIST


ROSENQUIST


CURSO DE ILUSTRAÇÃO EDITORIAL
A FOTOGRAFIA NA ARTE CONTEMPORÂNEA
FOTOGRAFIA E ARTE
Demarcando Fronteiras

ANDY WARHOL - serigrafia


A imagem fotográfica e aquela que permite 
deter o olhar e deste modo fazer emergir
desejos e questionamentos, construindo
vínculos raros em nossas experiências mediáticas.
A relação da imagem fotográfica com seu referente,
ou com o real, no transcorrer dos tempos, desde os primórdios da fotografia aos dias atuais, pode ser lida
sob três aspectos: I - Como espelho do real - o discurso
da mimese - onde há semelhança entre a imagem fotográfica e o real. II - Como transformação do real -
o discurso do código e da desconstrução - que modifica
a imagem capturada por meio de cortes, cores 
e enquadramentos, posibilitando assim uma transformação
da realidade. III - Como índice, quando o retorno ao referênte é eminente, ou seja, o referênte adere. A foto
em primeiro lugar é índice. Só depois pode tornar-se
parecida e adquire sentido. Nos primórdios , o objetivo da fotografia era o de fixar imagens obtidas através da câmara escura, conhecida já por Leonardo da Vinci.
A descoberta de Daguerre, em 1839, causou extranhamento
e surpressa. As imagens traziam uma fidelidade com o real
e uma riqueza de detalhes jamais vista nas pinturas renascentistas, e que dificilmente as mãos de um pintor
alcançariam, Se os pintores renascentistas e mais tarde os
barrocos, investiam em uma perspectiva realista, jamais
pensaram na pintura como uma transposição direta do mundo concreto para a tela. A fotografia, devido a sua relação direta com o real, encantou um grande número de pessoas e provocou a ira e a desconfiança de vários críticos
e artistas. Dentre eles o poeta francés Charles Baudelaire.
O poeta acusa a fotografia como acusa a futilidade do burgués pela moda. Mesmo assim tinha entre seus amigos 
íntimos, o fotógrafo Félix Nadar, que defendia o caráter
artístico da fotografia. Ao criticar duramente a fotografia como arte, Baudelaire acreditava estar salvando a pintura 
de uma catástrofe. Ela seria um instrumento, um servidor
da memória, simples testemunho do que foi, seu papel seria, portanto, o de conservar o traço do passado ou o de auxiliar as ciências em seu esforço para uma melhor apreensão da realidade. A preocupação de Baudelaire era com o esquecimento da arte ocasionado pela mecanização
e industrialização da fotografia.
As reações contra a industrialização da arte se deram
no século XIX, por causa do afastamento da "criação" e do "criador", o que provocaria uma perda de sensações, realidades interiores e riqueza do imaginário de cada artista.
Pela primeira vez no processo de reprodução, a mão,
peça fundamental na construção artística, era excluída,
sendo superada pela fotografia, atribuições que agora cabiam unicamente aos olhos. Walter Benjamim, em
"A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica"
reflete sobre as grandes controversias do século XX, entre
pintura e fotografia, disse: "a fotografia permitiu que 
pintura entregasse o "testemunho. Isto anuncia um novo
rumo para a arte. Ela pode se desprender do real, não
precissa ser "testemunho", portanto, não precissa ser indicial". Há pintores que utilizaram a fotografia, ou melhor, se valeram do seu caráter indicial, do traço, pelo seu poder
de lembrança e consequentemente, pelo poder de retorno
ao referênte. Entre as tendências que se valeram da lógica
do índice, podemos mencionar o Surrealismo e a Pop Art.

ANDY WARHOL - Cadeira elétrica - serigrafia


Esse caráter indicial, agora visível na fotografia,
pode ser resgatado desde os primórdio da pintura
e a escultura. Os homens do Paleolítico Superior -
período que se estende desde cerca de 38.000 a.C
até 9.000 a.C, em que o homo sapiens apareceu
na Europa - utilizavam um procedimento empregado
pelos australianos de hoje, que consiste em introduzir
um pó colorido em um tubo oco e soprar. Assim se
procede para conseguir as mãos em padrão, que são
inúmeras nas cavernas de Lascaux, na França. O pintor
colocava a mão na parede e soprava o pó em torno.
É a técnica mais primitiva de decalque ou impressão.
A imagem gerada pelo sopro do pó colorido, se torna um
traço de algo desaparecido, algo que esteve alí e não
está mais.
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A palavra fotografia deriva das palavras gregas photos (luz)
e graphia (escrita), significando escrita da luz. A luz desenha
a sombra da mesma forma que grava o fotograma.
Um fenómeno muito simples, que se deve a propagação
retilínea da luz, pode ser observado com o auxílio de uma câmara escura, aparelho descrito pela primeira vez por Leonardo da Vinci.
A câmara escura é uma caixa fechada, sendo que uma de suas paredes feita de vidro fosco. No centro da parede oposta, há um pequeno orifício. Quando colocamos diante
dele, a certa distância, um objeto fortemente iluminado,
vê se formar sobre o vidro fosco, uma imagem invertida desse objeto.
A câmara escura foi usada por artistas no século XVI para
auxiliar na elaboração de esboços das pinturas. De certo
modo, a máquina fotográfica é uma câmara escura, incrementada com lentes e filme fotográfico.
No inicio do século XX, a relação entre fotografia e arte
se estreitou ainda mais na chamada "arte contemporânea",
em que a arte insiste em se impregnar da lógica indiciária,
própria da fotografia.
Três tendências artísticas que têm a fotografia como fundamento, incorporadas à arte norte americana na segunda metade do século XX, no limiar do Modernismo
e na passagem do que hoje consideramos como arte
contemporânea, são: o Expressionismo Abstrato, a Pop
Art e o Hiper Realismo.
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EXPRESSIONISMO ABSTRATO


Foi um movimento pictórico norte americano
muito popular no pós-guerra, e o primeiro
a atingir influência mundial. 
Ganhou esse nome por combinar a intensidade
emocional do Expressionismo Alemão, com 
a estética anti figurativista das escolas abstratas
europeias, como o Futurismo, a Bauhaus e o
Cubismo Sintético.
Um dos principais nomes do Expressionismo Abstrato
foi Robert Rauschenberg, que usava em suas obras
a tradição dadaista da colagem, transformando grandes
superfícies, telas, paredes, em acúmulo de materiais,
em sobreposições de suportes, de camadas de pintura, de imagens, de texturas e até mesmo de objetos.
Nesse contexto de agrupamento de objetos, a fotografia
passa a ter um sentido duplo em suas obras - de pintor 
e não de fotógrafo - A fotografia é ao mesmo tempo
um objeto e um suporte material, incorporada na obra pintada. Suas combinações ou agrupamentos não são
somente regidos pela lógica da montagem, mas igualmente
com a lógica do traço, de índice.

POP ART


Com raízes no Dadaísmo de Marcel Duchamp,
começou a tomar forma no final da década de 1950,
quando alguns artistas, após estudarem os símbolos
e produtos do mundo da propaganda nos Estados
Unidos, passaram a transformá-los em tema de suas obras.
Representavam assim, os componentes mais ostensivos
da cultura popular, de poderosa influência na vida cotidiana
da segunda metade do século XX. Retorna a arte figurativa,
com outra roupagem, em oposição ao Expressionismo Abstrato que dominava a cena estética, desde o final 
da Segunda Guerra Mundial.
Sua iconografia era a da televisão, da fotografia, dos quadrinhos, do cinema e da publicidade. 
Um gosto cada vez mais insistente pela encenação
e formalização do objeto de consumo, o estereótipo,
o já pronto, o cliché, o cotidiano, latas de sopa, Marilyn,
Elvis, etc, um interesse maior de tudo que precede do
múltiplo, da cópia do original, da transporte fotográfico.
A relação entre a Pop Art e a fotografia é privilegiada,
pois não é simplesmente utilitária nem estético-formal,
é quase ontológico, sendo que a fotografia exprime a filosofia da Pop Art.

HIPER REALISMO


Também conhecido como realismo fotográfico ou
foto realismo, é uma tendência que busca mostrar
nas obras uma abrangência muito grande de detalhes,
tornando-as quase idênticas a uma fotografia ou
a uma cena da realidade. Destacaram-se nesta tendência,
artistas plásticos fotógrafos como Chuck Close e Richard
Estes.
As obras hiper reais, por apresentarem uma exatidão
de detalhes minuciosa e impessoal, geram um efeito de irrealidade, são paradoxais, no sentido de que são tão
perfeitas que parecem reais. O objetivo do Hiper Realismo
não é a reprodução, mas a representação que acrescenta,
que é excessiva.
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A fotografia indicou novos rumos para a arte.
Assim nos valemos de idéias de Picasso,
que constam de um diálogo do pintor com
o fotógrafo Brassai, seu amigo, em 1939.
Disse Picasso: "Quando você vê tudo que 
é possível exprimir através da fotografia,
descobre tudo que não pode ficar por mais
tempo no horizonte da representação picturial.
Por que o artista continuaria a tratar de sujeitos
que podem ser obtidos com tanta precissão
pela objetiva de um aparelho de fotografia?
Seria absurdo, não é? 
A fotografia chegou no momento certo, para
libertar a pintura de qualquer anedota, de
qualquer literatura, e até do sujeito".

Matheus Mazini Ramos


CURSO DE ILUSTRAÇÃO EDITORIAL
ROBERT RAUSCHENBERG
A REVOLUÇÃO DA POP ART
A FOTOGRAFIA NA PINTURA 
SERIGRAFIA MURAL

RAUSCHENBERG - foto: Andy Warhol


ROBERT RAUSCHENBERG
Texas 1915 - Flórida, Estados Unidos 2008
Foi um artista pintor e serígrafo que transitou
pelo Expressionismo Abstracto e pela Pop Art.
Estudou na Academia Julian, em Paris, e com
Josef Albers, antes de se fixar em Nova Iorque,
onde fez amizade com Jasper Johns e com o
compositor John Cage.
Rauschenberg é considerado um dos artistas
de vanguarda da década de 1950, pois foi nessa época,
que, depois das séries de superfícies com jornal
amassado, começou a produzir a chamada combine
painting, utilizando garrafas de Coca Cola, embalagens
de produtos industrializados e pássaros empalhados
para a criação de uma pintura composta não somente
da massa pigmentária, mas incluindo também objetos.
Esses trabalhos foram precursores da Pop Art.
Rauschenberg fes parte do Movimento Dadá em Nova
Iorque, empregando processos de colagem fotográfica
e serigrafia, e produzindo impressões diretas de objetos
imagísticos sobre placas sensibilizadas.
Na década de 1960, usou o silk-screen para imprimir
imagens fotográficas em grandes extensões de tela
e gigantescas placas de acrílico, unificando a composição através de grossas pinceladas de tinta.

dados extraídos da Wikipédia