terça-feira, 24 de junho de 2014

A Escravatura no Rio da Prata

O partido escravagista era muito forte durante o sistema colonial espanhol, e ainda no primeiro ano da Independência, teve uma presença política importante.
Os sobrenomes tradicionais dos escravocratas permite-nos
advertir a continuidade até os nossos dias, do sistema
oligarquico na Argentina. Levando em conta que em 1816,
o general San Martin teve em seu poder um censo
de escravos negros possíveis de recrutar militarmente,
que ascendia a 400.000, a pergunta é: que aconteceu
com essas pessoas nestas terras?
A escravatura não foi totalmente abolida até a consagração
da Constituição Nacional de 1853, quarenta anos depois
do inicio do processo emancipador. Esta demora aconteceu
por dois motivos: porque os negros escravos foram usados
como força nos exércitos nativos, e em segundo lugar, porque o partido escravagista era muito poderoso entre
os comerciantes. A escravatura não era compatível
com a ideologia do liberalismo burgués (mas não na prática
desse liberalismo), o liberalismo revolucionário nutria
as correntes mais progressistas da Revolução de Maio
de 1810. Na Assembleia Constituinte de 1813, se outorgou
a "liberdade de ventre", que deixava livres as crianças por nascer, mas os outros, toda a massa humana em poder
dos amos, continuou baixo o regime de escravatura
ou em outras formas de servidumbre. Foram os negros
os que nutriram com seu sacrificio os exércitos libertadores,
e San Martin reconhecerá o valor de suas tropas negras,
e também o ambiente racista na época, que não lhe permitiú
unir os batalhões negros com os mulatos e os brancos.
Os negros escravos morreriam na luta pela independência,
afastados dos outros, em rigoroso "apartheid".
Sarmiento, na sua obra da velhice "Conflito e Armonía
das Raças na América" lembrará a epopeia negra na nossa
terra. Esses valerosos negros morreram lutando durante
a travessia dos Andes, na Campanha Sanmartiniana, e nos
famosos batalhões que lutaram nas batalhas de Chacabuco,
Maipú, Cancha Rayada, e na campanha do Alto Perú.

Foto: Militão Augusto de Azevedo


Foto: Autor anónimo


Foto: Autor anónimo


Foto: Autor anónimo


Foto: Autor anónimo


Foto: Augusto Stahl 1885


O Genocidio Negro

O comercio de escravos estava relacionado principalmente com os comerciantes portenhos do Partido Unitário, 
o "partido saladeril" bonaerense, dedicado a criação de gado, o de Rosas, Anchorena, Roxas y Patrón, Ezcurra   
e Terrero, que careciam de idéias abolicionistas. Os negros
também povoavam os campos bonaerenses, e eram utilizados como serventes por fazendeiros e representantes
eclesiásticos. Os "saladeriles" não estavam vinculados
especificamente ao tráfico de escravos, mas os utilizavam
como mão de obra servil.
Quando Juan Manuel de Rosas asumiu o poder, tampouco
deu a liberdade aos escravos, mas manteve um tratamento
melhor para com os homens e as mulheres de cor.
Rosas mantinha estreita relação com as capas populares,
e costumava participar com membros da sua familia, das
festas dos negros no "Bairro do Tambor", em Monserrat,
San Telmo e na Recoleta (a velha Buenos Aires), nos famosos "candombes" e "marimbas". 
Quando voltaram os anti-rosistas ao governo, 
depois de 1851, não esqueceram aqueles negros 
que tinham motivado as suas fantasias de terror. A vingança
chegaria anos depois, durante a tragêdia da febre amarela
e a Guerra do Paraguai, no final dos anos 60.

O Proletariado

Não podemos falar em obreros ou proletários na Buenos Aires de meados do século XIX. A primeira revolução industrial ainda não tinha chegado à produção. Junto aos nativos, os gaúchos e os índios, estavam os negros, que
realizavam as tarefas mais servis na cidade, e tinham os oficios mais duros no campo.
Um intelectual negro que enchergou com clareza 
as contradições políticas da sua época, previú
a magnitude do odio dos brancos pelos seus coterráneos
de cor, e tentou dar impulso a uma corrente de opinião
amplamente democrática e avanzada para a sua época,
reivindicando os conceitos mais progressistas do seu tempo
a utopia social, o humanismo liberal e o socialismo,
foi Lucas Fernández. Tais doutrinas, adaptadas ao nosso
meio, foram expostas no jornal "O Proletário", que apareceu
no 18 de abril de 1858, e foi fechado dois meses depois,
em junho. A sua corta vida no entanto, permitiú conhecer
o que pensavam os negros, quais eram seus ideais, suas
reclamações, e sua visão dos acontecimentos e da cultura em geral. A publicação tinha por título "Periódico Semanal, Político, Literário e de Variedades", era editado por Lucas Fernández, e seu lema era "Por uma sociedade da classe
de cor".  

foto: Alberto Henschel 1870


Foto: Autor anónimo


Foto: Alberto Henschel


Foto: Autor anónimo


Foto: Augusto Stahl 1865


Foto: Autor anónimo


Foto: Autor anónimo 1859


O Movimento Democracia Negra

O movimento progressista da negritude, estava direcionado em primeiro lugar, a formar a conciência dos negros 
da Provincia de Buenos Aires, particularmente dos setores
analfabetos, mas continha também uma mensagem
para os brancos de todas as classes sociais, preevendo
os perjuizos que o racismo acarretava, propunha formas
mais evoluidas de organização social. 
Defendia em seu primeiro manifesto os interesses 
das classes desvalidas e apontava a fortalecer a inteligência
que se denotava na geração que se levantava, a vida de idéias e de saber. Queria que os homens e mulheres de cor
se integrassem na sociedade de Buenos Aires preservando
as suas raíces, mas cultivando as novas idéias
de redenção social.
Lucas Fernández tentou se opor ao racismo imperante,
denunciando a malevolencia, o ultraje, a injustiça,
e a discriminação racial e social. Reclamava a igualdade
perante a lei, dos negros, e expunha a necessidade 
da educação e do conhecimento das ciências
como forma de liberação.

A Tragédia

Resulta surpreendente a forma como os historiadores
tem tratado o tema da negritude. Controem teorias 
imaginárias sobre o destino da enorme massa humana
que compunha esse setor da sociedade portenha.
Os negros da etapa colonial e das cinco primeiras décadas
posteriores à Revolução de Maio, parecem ter se esfumado.
Mas, se atravessarmos, hoje, o Rio da Prata, 
a fins do século XX, encontraremos bairros em Montevideo,
habitados por negros. 
Ao longo do século XX, especialmente na primeira metade,
apareceram revistas, periódicos, diários e movimentos como
"Nuestra Raza", que difundiram a cultura da negritude.
A fins dos anos 40, Uruguai recebeu a visita do poeta cubano Nicolás Guillén, que foi recebido com festividades. Nesse momento o movimento negro em Montevideo
estava dirigido por Valentin Guerra. Porque na Argentina
não aconteceu o mesmo? Que aconteceu com os negros
anteriores aos anos setenta do século XX?
Existe uma explicação cruenta e trágica, foram suprimidos de maneira cínica e brutal.
Durante a febre amarela de 1871, os bairros mais castigados
pelo flagelo, foram os habitados pelos negros. Eram bairros
desprovidos de higiene, numa "velha aldeia" que carecia
de toda organização sanitária. Eram os bairros mais pobres,
onde a vida era mais dura. Alí aconteceu a tragédia alentada
pela promisquidade e a misêria.
Não eram melhores as condições de vida nos bairros brancos, mas nos habitados pelos negros era pior,
pela misêria reinante. Tinha chegado a hora da vingança,
e no meio do horror generalizado pela epidemia, o exército
rodeou os bairros dos negros e não permitiú a imigração
para as regiões mais altas da cidade, onde os brancos
construiram o Bairro Norte, produto da sua fuga da epidemia
Os negros ficaram confinados em seus bairros, 
contra a sua vontade. 
Alí morreram massivamente e foram sepultados em fossas
comuns. Os negros procedentes do interior, onde o flagelo não tinha chegado, foram recrutados compulsivamente
junto com gaúchos nativos, e levados para a Guerra do
Paraguai, onde morreram lutando na vergonhosa guerra
denominada da Tríplice Aliança.

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CURSO DE ILUSTRAÇÃO EDITORIAL
CARLOS CLÉMEN
A ILUSTRAÇÃO PARA A IMPRENSA DOS ANOS 70
A ILUSTRAÇÃO EDITORIAL


CARLOS CLÉMEM 
Nasceu em Buenos Aires, Argentina, em 1942.
Estudou na Escola de Belas Artes Manuel Belgrano,
no ateliê de Juan Carlos Castagnino, e na Sociedade
Estímulo de Belas Artes de Buenos Aires.
Emigrou para o Brasil em 1972, e teve destacada atuação
como ilustrador para a imprensa alternativa e também
como ilustrador de livros, durante as décadas de 1970 e 80.
Na atualidade vive e trabalha em São Paulo.
É evidente, na mediocre produção atual de ilustração,
a falta de crítica, tradição e escolas. Ilustradores são,
hoje, burocratas multiplicadores de ilusão. Sem uma
crítica da ilustração e dos meios, o futuro é o abismo
analfabético. A decadência da linguagem na imprensa
e da midia em geral destaca-se pela inesgotável capacidade
de vulgarizar tudo, porém, neste lamentável espetáculo,
alguns diamantes brilham dignamente.
Porque para a informação, a função está determinada
pelo rumo político e econômico da globalização
que normatiza a comunicação pelo modelo esplendoroso
do catálogo de supermercado. Informações fragmentadas,
rápidas, sem substância fazem os temas e o contexto desaparecer. O formato e a arquitetura da informação
segundo este critério que a alimenta, é transmitir dados
numa sorte de recorte psicótico da realidade, do programa:
indução para o consumo. Para este fim todas as noções
de valor, cultura, liberdade, se transformam em estatíticas 
manipuladas que se configuram e funcionam 
como entidades naturais na mecânica formadora de desejos
direcionados. Como um magma sinistro, a sombra de Pavlov pulsa o espírito das redações.
Ilustradores pressionados pelas editorias, seguem esta 
ou qualquer outra oligofrênica orientação, panfletos 
ou comentário galante dos textos.
É necessário que o ilustrador tenha uma visão própria
dos temas e do campo gráfico para despojar 
da sua condição servil o destino que a ilustração parece ter
nos projetos editoriais e jornalísticos. A página, a matéria,
a ilustração configuram um universo signico que exige
uma permanente crítica e análise. Um ilustrador sem opinião
é um patife espiritual.
Pensar a partir dos meios. 
Tensionar os recursos de operação da computação.
Boas idéias e algum nível de sensibilidade 
fazem desnecesário o domínio de técnicas académicas.
Fertilizar a imaginação, a conciência, as intuições do leitor.
Contruir gramáticas visuais perturbadoras.

Carlos Clémen
texto publicado no jornal "Unidade" 
órgão do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo - 1996

CLÉMEN - Ilustração para a revista "Argumento" - Editora Paz e Terra - nanquim e esferográfica - 1973


CLÉMEN - Ilustração para a revista "Argumento" - Editora Paz e Terra - nanquim e esferográfica - 1973


CLÉMEN - Ilustração para a revista "Argumento" - Editora Paz e Terra - nanquim e esferográfica - 1973


CLÉMEN - Retrato de Nelson Pereira dos Santos - nanquim e esferográfica - Revista "Argumento" - Editora Paz e Terra - 1973


CLÉMEN - Retrato de Nelson Pereira dos Santos - nanquim e esferográfica


CLÉMEN - Retrato de Cacá Diegues - nanquim e esferográfica - Revista "Argumento" - Editora Paz e Terra - 1973


CLÉMEN - Ilustração para a revista "Argumento" - Editora Paz e Terra - nanquim e esferográfica - 1973


CLÉMEN - Capa de encarte - Jornal Folha de São Paulo - 1982


CLÉMEN - Capa de encarte - Jornal Folha de São Paulo - 1984


CLÉMEN - Capa de encarte - Jornal Folha de São Paulo - 1983


CLÉMEN - Capa de livro - Editora Max Limonard


CLÉMEN - Capa de livro - Editora Max Limonard


CLÉMEN - Ilustração para livro - pastel - Editora Max Limonard


CLÉMEN - pastel - Revista "Gráfica"


CLÉMEN - Capa de livro - Editora Max Limonard


CLÉMEN - Capa de livro - Editora Max Limonard


CLÉMEN - pastel - Revista "Gráfica"


CLÉMEN - Ilustração para livro - pastel - Editora Max Limonard


CLÉMEN - Ilustração para livro - pastel - Editora Max Limonard


CLÉMEN - Série "Holocausto" - nanquim - Revista Shalom


CLÉMEN - Capa de livro - Editora Max Limonard


CLÉMEN - Série "Fotonovelas" - serigrafia


CURSO DE ILUSTRAÇÃO EDITORIAL
ROMAN CIESLEWICS
A REVOLUÇÃO DO CARTAZISMO POLONÉS

ROMAN CIESLEWICS


ROMAN CIESLEWICS
Lwów, Polónia 1930 - Paris 1996
Cieslewics foi um dos fundadores da escola polonesa
de cartazismo que promoveu uma estética de simplicidade
e clareza, incitando o uso da metáfora poética, 
e influenciando os artistas gráficos cubanos,
surgidos a partir da revolução de 1956. 
Entre 1959 e 1962, foi diretor de arte das revistas "Ty i Ja" e "Polska", se destacando também como cartazista teatral. 
Em 1963, mudou para Paris, e naturalizou-se cidadão francés, vivendo e trabalhando na França pelo resto 
da sua vida. 
Cieslewics criou o projeto gráfico e as capas da revista  "Opus International", importante publicação de artes visuais da década de 1970.
Sua arte funde uma série de tópicos intelectuais
e emocionais por meio da relação entre palavra e imagem, criando uma linguagem de visões surreais a partir de fotografias e gravuras contemporâneas.
Associações inusitadas, estruturas sofisticadas e expressões agressivas, são as características dos seus cartazes, inspirados no Construtivismo Soviético dos anos 20.
É mestre da colagen e a fotomontagem, presentes em toda
a sua obra, combinando romantismo, poesia, 
e uma lógica rigorosa, para definir as emoções em jogo.
Ao ser entrevistado, declarou: " Era o meu sonho fazer fotos
públicas que poderiam ser vistas por tantas pessoas
quando possível, daí a extrema importância do cartaz.
Dada a quantidade de objetos que nos rodeiam, acho que
um anúncio é a coisa mais importante para chegar as
pessoas.
Para mim, uma imagem nunca poderia ser separada 
do conteúdo. Eu sempre procuro transmitir com as imagens
o máximo de informações.
Você precissa estimular a imaginação ao máximo".
dados extraídos da Wikipédia