sábado, 10 de novembro de 2012

ALEXEI BUENO
Ilustrações para a Serie "Lapa" - do livro "A Árvore Seca

Alexei Bueno


NOTURNO

Sobre os seus saltos, sob a lua cheia,
Os travestis desfilam como garças,
Farsa carnal em meio às outras farsas
Que o mundo absurdo no aéreo chão semeia.

São deusas-mães usando liga e meia,
De ancas imensas, madeixas esparsas,
De enormes seios, piscando aos comparsas,
Buscando otários para a escusa teia.

São Vênus neoliticas chamando
Sombras confusas, entre os cães sem casa
E os negros ébrios. Seu barroco bando

Volveu, pulsante, dos tetos das grutas,
E ainda na nevoa, como uma vasa,
Rotundas popas balouçando enxutas.

Alexei Bueno 

Ilustração para o poema "Noturno" de Alexei Bueno - nanquim (estudo sobre escultura de Auguste Rodin)


Trimano - "Poemas Ilustrados" - Ilustrações para o livro "A Árvore Seca" de Alexei Bueno


Trimano - "Poemas Ilustrados" - Ilustração para o livro 'A Árvore Seca" de Alexei Bueno


Ilustração para o poema "I.M.L" - de Alexei Bueno - nanquim


I . M . L

Na porta do boteco
Com flores de coroas
Que oferta às moças boas
Ele ergue o seu caneco

De alumìnio gravado
Com o escudo do seu time,
E conta o último crime,
E olha o bordel fechado.

Sorrindo, no balcão,
Beberica e, prudente,
Fita a vaga onde, em frente,
Deixou o rabecão.

Então, se há um que lhe peça
Que lembre do seu carro,
Diz, dando um grosso escarro:
- Defunto não tem pressa.

Alexei Bueno

Trimano - "Poemas Ilustrados" - Mesa vitrine - Retratos


Trimano - 'Poemas Ilustrados" - Mesa vitrine- Retrato do ator e compositor Mario Lago - nanquim


MARCUS MELLO 
Ilustrações para o livro "O Filho do Matador de Boi"

Trimano - "Poemas Ilustrados" - Mesa vitrine Retrato de Marcus Mello - nanquim


Ilustração para o poema "A Trilha Sonora do Fim do Mundo" de Marcus Mello - nanquim


A TRILHA SONORA DO FIM DO MUNDO

O medo canta junto aos passaros
E no quintal as lavadeiras choram
Num gemido unico
Vai confundindo orquestrado quem ouve a melodia,
Trilha sonora do fim do mundo,
Mundo sem sabão:
Imundo mundo medonho.

No canteiro de algonquiana coragem
Alguns soldados penados resistem,
Entrincheirados a ré das novas mistificações
Onde pássaros são bichos de guerra lenta
Em mar tranqüilo de trissos e canções:
- Armamentos sacràrios despertando anjos distraidos
que desentendem a marcha do dia em oratórios explosivos.

Contamos o número de ninhos destruidos
E tocas desarmadas pela relva fluorescente:
- Isso que desdenha em nos nossa emoção
Pendura-se por um fio encravado em todas as estruturas orgânicas
e inextensíveis,
E movimenta o ar e a digestão de belmintos e anfibios, unidos as
engrenagens
Nos porém (penados ou não) flutuamos ainda distraidos
como os anjos.

Marcus Mello