quarta-feira, 25 de julho de 2012

foto: Juan Rulfo


Uma leve brisa de esperança invadiu o meu interior.
Atravessei a primeira porta que alcancei no meio
da escuridão e no avançar, sem saber a razão,
senti que titubeava, ao mesmo tempo em que tirava
inconscientemente de um dos bolsos uma caixa
de fósforos e ascendia a chama.
Esqudrinhei a habitação, quando ouvi alguns passos
que se atropelavam pelos corredores.
O sangue desapareceu do meu corpo, mas não a ponto
de deixar apagar a chama que acabara de acender.
Meu pai, tal como o encontrara naquela tarde,
apareceu no umbral da porta seguido de alguns seres
sinistros que rosnavam de forma grotesca. Apagaram
de imediato a luz que eu trazia, e gritaram misteriosamente:
- Luz, luz!... Uma estrela!
Fiquei paralisado e sem palavra.
Mas, com um gesto intempestivo, consegui reaver as forças
e gritar desesperado:
- Pai! Recorda que sou teu filho! Não estás doente!
Não podes estar doente! Para com esse grunhido selvagem!
Não és um macaco! És um homem, oh, meu pai!
Somos todos homens!
E acendí outro fósforo.
Uma gargalhada apunhalou-me o coração. E meu pai falou
com uma lástima dilacerante, pleno de comiseração infinita.
- Coitado, pensa que é um homem. Está louco...
E fez-se escuridão outra vez.
Arrebatado pelo espanto, distanciei-me do grupo tenebroso,
a cabeça girando.
- Coitado! - exclamaram todos - Está completamente louco!...
- E aqui estou - acrescentou com pesar o homem que fizera
esta narraçãqo curiosa.
Aproximou-se então um empregado de uniforme amarelo
e fez um gesto para que o seguisse, ao mesmo tempo
em que nos saudava, despedindo-se e falando para os lados:
- Boa tarde, agora precisa ir para o seu quarto, boa tarde.
E o narrador demente dessa história desapareceu junto com
o seu enfermeiro  que o guiava entre os verdes choupos 
do manicômio, enquanto o mar murmurava amargamente
e os pássaros lutavam entre si na espádua agonizante da tarde...
Extraído do livro de relatos "Paco Yunque" - tradução: Jorge Simões

foto: Juan Rulfo


OS POETAS
VIOLETA PARRA - Chile

O retrato fotográfico - VIOLETA PARRA - (Violeta del Carmen Parra Sandoval) - San Carlos 1917 - Santiago do Chile 1967 - Poeta, compositora e artista plástica


PUPILA DE ÁGUILA


Un pajarillo vino a posarse bajo mi arbolito,
era de noche, yo no podia ver su dibujito,
se lamentava de que una jaula lo hizo prisionero,
que las plumillas, una por una, se las arrancaron.
Quise curarlo con mi cariño más el pajarillo
guardó silencio como una tumba hasta que amaneció.

O retrato fotográfico - Violeta Parra


Llegan los claros de un bello dia, el viento sacudió
todo el ramaje de mi arbolito y allí se descubrió
que el pajarillo tenia el alma más herida que yo,
y por las grietas que le sangraban su vida se escapó,
en su garganta dolido trino llora su corazón,
le abrí mi canto y en mi vihuela lo repitió el bordón.

O retrato fotográfico - Violeta Parra