sábado, 10 de março de 2012

P.VERGER - "Estrada de ferro" - Washington, Estados Unidos 1937

P. VERGER - "Charleston" - Estados Unidos 1934

P. VERGER - "Casamentos" - Pequim, China 1934

P. VERGER - "Infernillo" - La Paz, Bolivia 1942 - 1946

Lhe escrevo de Ketu, que agora é um pouco a minha cidade natal.
Há um mês, me tornei fatumbi (Ifá me trouxe de novo ao mundo).
Bem, sou obrigado a ser discreto sobre mais assunto.
Devo ou não dizer? (...)
Ketu é muito interessante, tal vez porque é muito isolada,
durante quatro meses somente consegue comunicação
com o resto do Daomé, nos outros oito meses, a região fica cortada
pela subida das águas de Orineme e os pántanos do Holli,
onde alguns kilómetros de estrada pelas suas condições não permitem
a passagem senão na estação seca.
Vivo em pleno vilarejo, saudado pelo título de babalaó,
do qual carrego no pulso esquerdo o bracelete de pérolas,
que me foi amarrado por meu oluwo; e o exibo tão orgulhosamente
quanto uma recente condecoração do "mérito agrícola".
A aldeia tem um aspecto um pouco abandonado, com casas em ruínas
e tetos caídos, os carneiros e cabras pastam por toda a parte e, à noite,
parecem tornar-se mais enraivecidos. Atormentados pelas centenas
de orixás aos quais eles serão sacrificados.
Eles se precipitam, berrando como furiosos pelas ruas.
Este aspecto da aldeia em ruínas é enganador, raramente vi aldeias
tão vivas. Quando a noite cai, as pessoas se juntam perto de uma pequena
feira noturna - muito animada, iluminada por centenas de pequenas
luminárias trêmulas dos vendedores agachados atrás de sua mercadoria.
Um verdadeiro balé de saudações, reverências, flexões dos joelhos,
inclinações de cabeça - muito variados - com desfile de panos coloridos
adornados à moda antiga. Todas as noites acontece uma festa
em algum lugar, na aldeia ou em uma fazenda dos arredores...
carta de Pierre Verger a Roger Bastide. Ketu - 16 de abril de 1953

P. VERGER - "Os povos"

P. VERGER - "Os povos"

P. VERGER - "Os povos"

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P. VERGER - "Os povos"

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P. VERGER - "Os povos"

É num caminhão que eu "embarco" para a Bahia.
Sua carta me chega em bom momento e tonifica ainda
o estado de entusiasmo e euforia em que me encontro.
Estou no maravilhoso momento que é para mim o da partida.
Experimento um sentimento que é o da libertação.
Em contraste com muitos dias de spleen provocados pela
dificuldade que tenho em me separar das coisas.
Cinco meses foram suficientes para criar ligações.
Minha estada aquí foi muito feliz.
Para voltar ao Recife eu pude, fora do meio dos cultos africanos,
estabelecer relações amigáveis em ambientes que eu não fiz mais
que ladear sem penetrá-los. Uma performance difícil para um filho
da "burguesia" europeia. Tornei-me amigo de pessoas de condições
muito modestas. Esta amizade nasceu durante uma viagem em cima
da carga de um caminhão durante uma turnê pelo interior de Pernambuco.
Moços negros de frete, participantes de um grupo de dançarinos
de bumba-meu boi, cheios de talento, divertidos, bebedores e bêbados,
lembram, em grande estilo, os cómicos da Idade Média. Tornamo-nos
"muito amigos". Eu os espero. Dois dentre eles vão me ajudar a carregar
as bagagens até o caminhão... E sinto que haverá numerosas libações
de aguardente. Fiz ontem, como despedida, a minha turnê pelos "altos"
(versão local das favelas do Rio) que rodeiam a cidade. Adeuses,
que me apertam o coração...
carta de Pierre Verger a Métraux, Recife, 24 de outubro de 1947

P. VERGER - "Os povos"

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