segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

David Hockney e o painel da pesquisa


A tese que apresento aquí e de que, a partir do inicio do século XV,
muitos artistas ocidentais usaram a óptica - com o que me refiro
a espelhos e lentes (ou uma combinação dos dois) - para criar
projeções fieis. Alguns dos artistas usavam essas imagens projetadas
diretamente para produzir desenhos e pinturas, e cedo esse novo modo
de retratar o mundo - esse novo modo de ver - disseminou-se. Muitos
historiadores da arte sustentaram que certos pintores usavam a câmara
escura em sua obra - Canaletto e Vermeer, em particular, são muitas
vezes citados - mas, que eu saiba, ninguém sugeriu que a óptica foi
usada tão amplamente ou tão cedo quanto sustento aquí.
Peço licença aquí para dizer que a óptica não faz marcas, somente
a mão do artista pode faze-lo, e exige-se grande habilidade. E a óptica
também não facilita nem um pouco o desenho, longe disso - eu sei,
eu a usei. Mas para um artista, 600 anos atrás, as projeções opticas
hão de ter demonstrado um novo modo fiel de observar e representar
o mundo material. A óptica conferiu aos artistas uma nova ferramenta
com que fazer imagens mais imediatas, mais poderosas. Sugerir que
os artistas usaram dispositivos opticos, como sugiro aquí, não é
diminuir seus feitos. Para mim, isso os torna ainda mais impressionantes.
extraído de "O Conhecimento Secreto" de David Hockney 
Essas fotografias mostram o processo em maior detalhe.
No canto superior esquerdo, pode-se ver a projeção no
papel à medida que faço minhas marcas iniciais, dois
estágios das quais podem ser vistos no canto superior 
direito. Após tomar as medidas, retiro o papel e completo
o desenho do natural. A pessoa, sentada todo ese tempo
lá fora, é capaz de ver muito pouco do que se passa no
interior do quarto. Nem se dá conta de que o espelho
está alí. Alguns historiadores da arte me disseram que há
relatos escritos de arranjos análogos nos séculos XV e XVI.
extraído de "O Conhecimento Secreto" de David Hockney

A câmara escura


A câmara escura


A câmara escura


A câmara escura


A câmara escura


David Hockney - retrato - lápiz e guache


domingo, 30 de dezembro de 2012

Tal como a maioria dos pintores, imagino, quando observo pinturas
estou tão interessado em "como" foram pintadas quanto em "o que"
dizem ou "por que" foram pintadas (essas questões, é claro,
são relacionadas). Tenho eu proprio pelejado para usar a óptica,
descobrí que estava agora observando as pinturas de um novo modo.
Era capaz de identificar características ópticas e, para surpresa minha,
podia vê-las na obra de outros artistas - e a coisa remontava aos anos
1430, ao que parecia! Creio que foi somente no fim do século XX
que isso se tornou evidente. Foi necessária a tecnologia nova, sobretudo
o computador, para vê-lo. Os computadores deram lugar a impressões
coloridas mais baratas e de melhor qualidade, conduzindo a uma grande
melhora nos últimos 15 anos no padrão dos livros de arte (mesmo 20
anos atrás, a maioria era preto e branco). E agora com fotocopiadoras
coloridas e impressoras pessoais qualquer um pode ter acesso a
reproduções baratas mas de boa qualidade em casa, e assim pôr lado
a lado obras que estavam antes separadas por imensas distâncias.
Foi isso o que fiz em meu estúdio e o que me permitiu ver a coisa em
toda a sua amplitude. Somente ao reunir desse modo as imagens que
comecei a notar coisas; e tenho certeza de que essas coisas só poderiam
ser vistas por um artista, um fazedor de marcas, que não está tão
afastado da prática, ou da ciência, quanto um historiador de arte.
Afinal, estou dizendo apenas que os artistas sabiam em outro tempo usar
uma ferramenta, e que esse conhecimento se perdeu.
extraido de "O Conhecimento Secreto" de David Hockney  


No começo de 1999 fiz um desenho usando 
uma câmara lúcida. Era um experimento
baseado no palpite de que Ingres, nas primeiras
décadas do século XIX, tivesse usado esse pequeno
dispositivo óptico, então recém inventado. Minha
curiosidade foi despertada quando fuí a uma exposição
de seus retratos na National Gallery de Londres e fiquei
surpresso como eram pequenos os desenhos, embora
tão misteriosamente "precisos". Sei como e difícil
alcançar tal precissão, e imaginei como ele teria feito.
O que se seguiu levou-me a esse livro.
extraido de "O Conhecimento Secreto" de David Hockney

David Hockney


David Hockney - retrato - lápiz


David Hockney - retrato- lapiz


David Hockney - retrato - lápiz e guache


David Hockney - retrato- lápiz


Andy Warhol - lápiz


Sei que Warhol usou um projetor para fazer
desenhos como esse. Seu traço tem uma
óbvia aparência "decalcada". Foi contemplar
esse desenho que me fez reconhecer a
semelhança com as roupas do retrato de Holbein.
extraido de "O Conhecimentp Secreto" de David Hockney

Andy Warhol - "Maço de notas" - caneta


Os traços das roupas no retrato de Holbein,
são feitos depressa e sem hesitação, e diferem
do estilo do rosto. Os desenhos são confiantes
e "precissos". Acompanhe os traços da manga
de Holbein. São executados rapidamente, de uma vez,
como se decalcados, acompanhando as dobras e
conferindo volume. Os traços no maço de dinheiro
de Warhol são análogos, nada de alterações, cada cual
em posição que parece a correta.
extraido de "O Conhecimento Secreto" de David Hockney

Hans Holbein - Retrato - lápiz


quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Jean-Auguste Dominique Ingres
e a utilização de lentes na pintura.

Ingres - "Autorretrato" - óleo


JEAN-AUGUSTE DOMINIQUE INGRES - França 1780-1867
Ingres ficou famoso na história da pintura, principalmente como
pintor de retratos. Foi aluno de David e atuou na passagem do
Neoclassicismo para o Romantismo.
A partir de 1830 opôs-se com veemência, da sua posição de
académico, ao triunfo do romantismo pictórico representado
por Delacroix. 

Ingres - "A banhista de Valpinçon" - óleo


Ingres - "A banhista de Valpinçon" - detalhe


Ingres - "Retrato de madame de Saint-Marie" - óleo


Ingres - "Retrato de madame de Saint-Marie" - detalhe


Ingres - "Retrato de madame Devauçay" - óleo


Ingres - "Retrato de madame Devauçay" - detalhe


Ingres - "Estudos para uma composição sobre tema bíblico" - óleo


Ingres - "Retrato de madame Moitessier" - óleo


Ingres - "Retrato de Niccolo Paganini" - crayón - 1819


Ingres - "Retrato de mademoiselle Riviere" - óleo


Ingres - "Retrato de mademoiselle Riviere" - detalhe


Se Ingres usou uma câmara lúcida para
desenhar retratos, terá usado também
dispositivos ópticos para sua pintura?
Tome, por exemplo, o belo retrato de
madame Leblanc, pintado em 1823,
mais de 15 anos antes da invenção da
fotografia química. Veja como é de uma
precisão realista o tecido com motivos
decorativos. Que diferença para o estudo
de uma cortina, por Cézanne, um estudo
certamente feito a olho. Mas e olho (e
coração) estão em ação aquí; pode-se ver
claramente como o quadro foi construído.
Será que o tecido do retrato de Ingres foi 
feito do mesmo modo? Se a pessoa rejeita
o uso da óptica, terá então de dizer sim,
ele também foi feito a olho. Mas acho isso
difícil de acreditar. Não há "estranheza"
na reprodução das dobras, das sombras
ou do delicado motivo que acompanha
cada sinuosidade do material de modo tão
convincente. Seriam precisas habilidades
de observação e pintura da mais elevada
ordem para fazê-lo "a mão livre".

Paul Cézanne - "Estudo de uma cortina" - aquarela


Levaria também largo intervalo de tempo,
tempo precioso para um artista tão requisitado
como Ingres. Sem dúvida, se tivesse tido
noticia de um modo de acelerar o processo, ele
o teria usado. Ele estava, afinal, no negócio de
fazer imagens. Ingres presenciou o advento da
fotografia e, segundo um relato, fez uso de
fotografias em seus últimos anos. Certamente
terá tido conhecimento da cámara escura, e
não há motivo para supor que dela também
não tenha feito uso. O tecido drapeado sobre a
cadeira de madame Leblanc não poderia, creio
eu, ter sido feito sem algum expediente óptico.
O motivo acompanha as dobras impecavelmente,
o que significa que deve ter sido traçado ponto
por ponto. A óptica fornece o único meio prático
de fazê-lo.
extraido de "O Conhecimento Secreto" de David Hockney

Ingres - "Retrato de madame Leblanc" - óleo - 1823


terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Quando fui ver a exposição de Ingres na National Gallery
de Londres, em janeiro de 1999, fui cativado por seus
belos desenhos de retratos - misteriosamente "precisos"
quanto as feições, porém desenhados no que me parecia
uma escala artificialmente pequena. O que tornava a proeza
 de Ingres nesses desenhos tanto mais impressionante era
o fato de os modelos serem todos extranhos (é muito mais
fácil captar a semelhança de alguém que se conhece direito)
e de os desenhos terem sido traçados em grande velocidade,
a maioria num único dia. Ao longo dos anos eu desenhei 
muitos retratos, sei como leva tempo para desenhar do modo 
como Ingres desenhou. Fiquei pasmo. "Como ele os tinha feito?",
perguntei-me.
extraído de "O Conhecimento Secreto" de David Hockney

Ingres - Retrato de uma dama - crayón


Ingres - Retrato - crayón


Ingres - Retrato - crayón


Ingres - Retrato - crayón


Ingres - Retrato de uma dama - crayón


Ingres - detalhe


Proposta Editorial Independente
ROBERTO BROULLON 
"El Pinturieto" - Pintor e editor
ARGENTINA 
ROBERTO BROULLON "El Pinturieto"
Pintor e poeta.
Nasceu en Buenos Aires en 1932 e faleceu na mesma cidade
no mes de dezembro de 2012.
Participou ativamente desde o inicio da década de 60
do movimento de renovação e mudanças nas artes plásticas
da Argentina.
Junto aos pintores Carlos Gorriarena, Ruben Molteni, Enrique
Aguirrezabala, e ao gravador Pablo Obelar, foi fundador do
grupo de arte "Baires".
Em 1964-65 expõe suas "Pinturietas", cuyo nome ficou sendo
o pseudónimo (humoristico) que Roberto adotou como "nome
artístico", na galeria Lirolay de Buenos Aires.
Em 2000 edita, junto da sua companheira a poeta e pintora
Danielle Camus, o boletim de arte e poesia LA BOCA DEL CABALLO.
Inicia uma nova etapa que denomina "expressionismo sintético"
preocupado em "fusionar" figuração e abstração.
LA BOCA DEL CABALLO de Broullon, foi para a cultura urbana de
Buenos Aires, o que foram as publicações alternativas dos anos 70
no Brasil. Uma proposta editorial independente,
"sem as pressões do marketing", como anuncia em seu editorial.
Roberto Broullon "El Pinturieto"
e o boletin de arte e poesia
LA BOCA DEL CABALLO
Período de atuação: Buenos Aires 2000-2012 

Roberto Broullon "El Pinturieto"


LA BOCA DEL CABALLO, é um boletim internacional de textos
pertencentes a artistas criadores, no qual convivem alguns
contemporáneos e ilustres antecessores.
Aparece regularmente desde 2000.
No boletim LA BOCA DEL CABALLO poderão ser lidas opiniões,
ocorrências, e também questões filosóficas, reflexões sobre
o imaginário dos autores, advertências que podem se transformar
em alucinações, sinais para o caminho.
LA BOCA DEL CABALLO,  é "arte poética" X "produção industrial"
porque "no existe arte sem um propósito poético" nas palavras
de Delacrioix.
LA BOCA DEL CABALLO propõe o intercâmbio e a comunicação
internacional sem as pressões do marketing = "mistificações: não".
LA BOCA DEL CABALLO se propõe hierarquizar o individual;
pessoas únicas e irrepetíveis que vivem na sociedade.
Não é uma publicação acessível a todo público, e sim para quem
se esforce por alcançá-la.
Por isso, não espere que ninguem a leve até você, vá a buscá-la.
LA BOCA DEL CABALLO é para os que sentem curiosidade e
saudades da verdade e da beleza.
ROBERTO BROULLON "El Pinturieto"

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Boletim "La Boca del Caballo"


Boletim "La Boca del Caballo"


Boletim "La Boca del Caballo"


Boletim "La Boca del Caballo" - Retrato de Enrique Policastro quando jovem, por Emilio Centurion - crayón


ENRIQUE POLICASTRO - Buenos Aires 1898-1971
Pintor e muralista.
A pintura de Policastro, mostra a desolação e a pobreza
do povo das provincias da Argentina 
e dos suburbios de Buenoa Aires.
Trabalhava a tinta muito empastada em grossas camadas
de tonalidades ocres, marrons e muito negro,
o que conferia um clima trágico e por momentos lúgubre
as suas paisagens de terra arrassada e personagens
fantasmas.
Foi autodidata,  expressionista e tambén aderiú ao realismo social
do grupo da Oficina de Mural criada por Spilimbergo, Castagnino e Berni em 1933,
participando da pintura da cúpula da Galeria San José de Flores em Buenos Aires em 1956.

Boletim "La Boca del Caballo" - Homenagem a Enrique Policastro


Henrique Policastro - Mural coletivo junto com Juan Carlos Castagnino e Demetrio Urruchua, nas galerias San José, no bairro de Flores em Buenos Aires, inauguradas em 1956 - detalhe


Policastro - Idem - detalhe


Policastro - Idem - detalhe