quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

MARCIA "Z" BRAGA
"Na vida, como na vida profissional, a liberdade é o objetivo principal" / J. CARLOS

"Z" - Ronald Reagan - lápiz de cor

Quem é esse aí? - perguntava com um sorriso de zomba o editor de conhecido matutino carioca olhando para um desenho de Cassio Loredano. Ao que ele respondia sério e já perdendo a paciência: - "Esse aí, é um desenho sobre a cara de fulano de tal..." - "Você está louco, esse aí não é fulano de tal, nunca na vida!" - retrucava o editor, e acresentava! - "Eu não vou publicar isso aí, de jeito nenhum!" - Fazia bastante tempo que os dois estavam nessa conversa, e o Loredano entendendo que o outro não ia aceitar mesmo o seu trabalho." - "Então publica uma foto!" - arrematou, cabreiro. Dito isto, sentou-se na ponta da mesa do editor, e começou a arrancar, com os dentes, diminutos pedaços do desenho, que mastigava e cuspia sistematicamente no chão. Minutos depois, um picadinho de partículas de papel branco se espalhavam por cima das mesas, das cadeiras, e em volta, no chão. O desenho, uma abstração do líder africano Patrice Lumumba, tinha virado picadinho, para surpressa da redação , e angústia minha. Saímos do jornal e fomos encher a cara de cerveja no bar mais próximo. Um belo trabalho tinha se perdido, mas, em compensação, naquela noite o Cassio interpretou no balcão do bar, acompanhado de uma caixa de fósforos, o repertório quase completo de Noel Rosa... Era o ano de 1976, outros tempos, outras conversas, e outros editores, mas a discussão continua sendo a mesma.

"Z" - Paulo Maluf - lápiz

De lá para cá, foram surgindo novos profissionais, tentando levar em frente aquela proposta que parecia tão descabelada aos editores, e que ainda hoje pode parecer a alguns. O mercado de trabalho mudou e, aquilo que há 10 anos atrás foi força e talento na imprensa brasileira, se transformou na imprensa televisiva, esvaziando assim em muito o jornalismo escrito. Vazio, rotina, deserção e até justificado desânimo, aconteceu com muita gente. Mas também aconteceram mudanças nos critérios e nas formas de expressão.

"Z" - "Paulo e Chico Caruso" - lápiz

Hoje, em plena metade da década de 80, estamos com tudo por se fazer novamente!.. Marcia "Z" Braga, não terá que mastigar os seus desenhos até virarem picadinho e jogar na cara dos editores, nem terá que se dedicar a outra profissão, pois a qualidade do seu trabalho está aí para testemunhar permanência. Mas, como ela não copia o Sr David Levine, nem busca inspiração nas páginas da revista Graphis, é bem possível que ainda leve algum tempo para impor a vertente surrealista do seu traço. Como Loredano, Marcia "Z" Braga constroi um desenho independente de lugares comuns ou servilismo ilustrativo. Isto exigirá uma interpretação inteligente e também um conceito "progressivo" (e olha que digo "progressivo" e não "pogressista"...) da visualidade na ilustração para imprensa.

"Z" - Mário Kertesz - lápiz

Depois de uma rápida passagem como repórter da TV Globo, e uma experiência profissional desagradável na imprensa baiana, em Salvador, decide abandonar definitivamente o jornalismo escrito para se dedicar ao desenho. Em 1985 ganha o primeiro prêmio de caricatura no Salão de Humor de Volta Redonda e mais três prêmios nos seguintes salões de humor: de Piracicaba, com uma caricatura de Janio Quadros, do Piauí, com caricatura de Risoleta Neves, e de Franca, com caricatura de Roberto Gusmão. Em 1986 organiza uma exposição dos seus desenhos em Salvador, BA, recebe o prêmio de imprensa no Salão de Piau com caricatura de Abi-Ackel, e participa dos salões de Volta Redonda, Piracicaba e Recife. De volta ao Rio conhece, conhece os irmãos Chico e Paulo Caruso, que fazem o contato de "Z" com Tarso de Castro, e começa a publicar no "O Nacional" Foi um assombro ver seus primeiros desenhos publicados. Paramos para saber quem era esse desenhista que despontava com um traço diferente. Ficamos intrigados com a assinatura, um "Z" misterioso e rasgado a maneira do "Zorro". Depois que fomos descobrir que era uma menina. Quando a entrevistamos para esta página, suas palavras finais foram: "Tem que dar certo. Se não der certo, não vou ser nem contorcionista nem cantora lírica. É provável que empunhe uma tesoura e seja encontrada num cabeleireiro de luxo, cegando a minha lâmina nos cabelos de peruas e mocréias..." Trimano / 87 _______________________________________________________________ ...não deu certo... / Trimano 2010