Mil novecentos e setenta e um tanta gente /
na estrada de Jessore sob um sol inclemente /
Quem não consegue fugir pra Calcutá /
Do Paquistão Oriental acaba morrendo por lá
Táxi setembro carroça de carvão nessa estrada /
Por esqueletos de boi rumo a Jessore sendo puxada /
pista sulcada de chuva, campos inundados /
Árvores sujas de bosta, casebres plástico nos telhados
Úmidas caminhadas Famílias ao léu /
Meninos mudos mirrados só a cabeça cresceu /
Veja crânios ossudos & olhos redondos silentes /
Anjos negros esfomeados disfarçados de gente
Mãe de cócoras mostra os filhos chorosa /
Pernas magrinhas parecem freiras idosas /
corpinhos miúdos mãos à boca em prece /
Há cinco meses que comida por lá não aparece
ao lado da panela vazia numa esteira deitado /
O pai levanta os braços ele está desesperado /
Vêm lágrimas aos olhos cansados de sua mulher /
A dor faz a mãe Maya chorar & sofrer
Duas crianças juntas na sombra paradas /
Me olham fixamente permanecem caladas /
Uma vez por semana, leite arroz e lentilhas /
É tudo que a guerra dá às crianças suas filhas
Ao pai falta comida dinheiro e trabalho também /
O arroz dura quatro dias é comer enquanto tem /
As crianças passam três dias sem se alimentar /
e depois vomitam quando comem se não comem devagar
Na estrada de Jessore ajoelhada a minha frente /
Mulher chorando disse em bengali ajuda a gente /
O cartão de identidade foi rasgado sem querer /
Meu marido foi na agência mas ninguém quer atender
Eu estava ocupada o neném pegou o cartão /
Agora não querem mais dar comida pra nós não /
Trago aquí na minha bolsa os pedaços guardados /
Uma brincadeira de criança e estamos desamparados
Dois policiais cercados por milhares de meninhos /
Esperam anciosos pra ganhar alguns pãezinhos /
Os policiais têm apitos & porretes pra impor respeito /
& manter a desciplina Mas os garotos não têm jeito
O menorzinho de todos sai da fila de repente /
Fura o cerco dos guardas e fica bem lá na frente /
Dois irmãos seguem o exemplo também saem do lugar /
Os guardas saem correndo atrás possessos a apitar
Por que é que essas crianças estão aqui amontoadas /
Rindo brincando correndo & trocando cotoveladas /
Por que esperam tão alegres & com tanta tensão e esperança /
É por aqui nessa Casa distribuem pão pras crianças
O homem da Casa do pão vai à porta & dá um grito /
Milhares de meninos & meninas repetem o que foi dito /
É alegria? é uma prece? "Hoje não tem mais pão" /
É um grito de "Hurra!" se eleva da multidão
Voltam correndo pros barracos onde ficam à espera os pais /
E os pequenos mensageiros avisam que pão não tem mais /
Acabou o pão do governo! no casebre apertado /
& o bebé está doente, está muito desarranjado.
Desnutrição afeta crânios os torna pequeninos /
Desinteria esvazia ao mesmo tempo todos os intestinos /
Enfermeira mostra cartão Está faltando Enterostrep /
Precisa de suspensão ou então Chlorostrep
Campos de refugiados clínica improvisada /
Recém-nascido no colo da mãe escaveirada /
O outro tem uma semana nem parece gente não /
Vai morrer de Reumatismo Gastrenterite Intoxicação
Setembro em Jessore Num jinriquixá /
50.000 almas num dos campos eu vi lá /
Cabanas de bambu totalmente inundadas /
Esgoto a céu aberto famílias esfomeadas
Os caminhões com a comida estão ilhados com a enchente, /
Angélica máquina americana vem correndo que é urgente! /
O embaixador Bunker estará muito ocupado? /
Vendo criancinhas metralhadas por soldados?
Os helicópteros da USAID por onde andarão? /
Traficando heroína lá nas matas do Sião. /
E nossa Força Aérea gloriosa, onde andará a voar? /
Nos céus do norte do Laos, soltando bombas sem parar?
Onde o Exército de Ouro de nosso grande Presidente? /
Onde a Marinha bilionária piedosa e Valente? /
Nos trazemos remédios agasalho alimento? /
Lançando sobre o Vietnã Napalm e mais sofrimento?
Onde as nossas lágrimas? Quem chora por tanta maldade? /
Pra onde irão todas essas familias na tempestade? /
Em Jessore as crianças fecham os olhos a pensar: /
Quando Nosso Pai morrer onde é que vamos morar?
A quem iremos rezar pedindo carinho e comida? /
Quem vai trazer pão pra esta casa inundada e fedida? /
Milhões de crianças na chuva sem amor! /
Milhões de crianças chorando de dor!
Ó línguas do mundo denunciai esta dor que não vemos /
Ó vozes do mundo clamai pelo Amor que não sabemos /
Ó sinos de dor elétrica, dobrai com insistência /
Despertai na mente da América ó sinos a conciência
Quantas seremos nós pobres crianças perdidas? /
De quem são filhas estas que vemos perderem suas vidas? /
Que valem nossas almas se não mais nos importarmos? /
Cantemos canções & choremos se ousamos -
Chora no chão do lado da casa onde o esgoto é derramado /
Dorme dentro dos canos largados no campo enlameado /
espera ao lado do poço. Maldito seja este mundo /
onde bebés passam fome deitados num catre imundo!
Foi isso que no passado a mim mesmo causei? /
Que hei de fazer? ao Poeta Sunil perguntei. /
Não lhes dar nenhum dinheiro e então seguir em frente? /
Ao prazer de minha carne devo tornar-me indiferente?