domingo, 28 de fevereiro de 2010

"SIN CITY" - FRANK MILLER
FRANK MILLER - Maryland - USA 1957 / Desenhista de histórias em quadrinhos e roteirista de cinema. Seu desenho fortemente altocontrastado nos faz lembrar o "film noir" e nos remete a luz da fotografia cinematográfica. Miller é um inovador do género "hiper-violência" produzido pela fábrica norteamericana de películas e quadrinhos. Autor de truculentos personagens de ficção policialesca como "Homem Aranha" - "Demolidor" - "Batman" - "Wolverine" e "Robocop", em tránsito pelo sombrio mundo do crime organizado da mega metrópole, repleta de gangsters, prostitutas e assassinos profissionais, que dão o tom as suas histórias. Recentemente foi co-diretor, junto a Robert Rodriguez e Quentin Tarantino da adaptação para o cinema de "Sin City", histórias desenhadas com roteiro da sua autoria.

tudo foi para os infernos, para os infernos!

tem que ser silêncio!

meu coração não se acalma / tranquilo, tranquilo / meu coração não se acalma

o silêncio não é necessário, já não...

detras de mim estalam raios e trovões, se abrem buracos no meu peito / meu último dia de trabalho / jeito fodido de começar minha aposentadoria...

de repente alguma coisa se rompe dentro de mim

passarás o resto da tua vida na prisão, desonrado, destruido, só.

digo tudo o que querem escutar, do jeito que eles querem, não se ria, são imaginações...

calma, da meia volta e sai pela porta, ela será salva

tú vas morrer, achando que a culpa é tua!

puta estúpida! / não estou cansado! / hás de chorar! hás de suplicar! hás de gritar! hás de gritar!

não, agora não / não posso respirar / não, agora não

fica bem, velho lobo, seja forte, seja esperto / ela precissa de você

um velho morre e uma moça vive / negócio justo / te amo Nancy

a ROBERT PHILIP MILLER / in memoriam

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

VAN GOGH / Desenhista

"Mulher de Scheveningen" - croqui,tinta - La Haye 1882

VINCENT VAN GOGH - Goot Zunder - Holanda 1853 / Auvers-sur-Oise - França 1890 / Post-Impressionista. / Maior referência do Expressionismo, Van Gogh travou uma luta contra os covencionalismos, pela exaltação de sentimentos e significados simbólicos, expressos nos autorretratos e nas pinturas de paisagens. Travou também uma outra luta contra as perturbações epilépticas agravadas pelo uso de absinto, que acabaram por leva-lo a cometer suicidio aos 37 anos. Estuda pintura na Holanda com seu primo, Anton Mauve (1808 - 1888). É nomeado pastor em Borinage, região mineira da Bélgica, que acaba em fracaso. Por volta de 1886 chega em París, onde descobre o Impressionismo. Mesmo observando a rigorosa disciplina que se impós, na preocupação pelo dominio técnico, e de ter adquirido conhecimentos eruditos em arte e literatura, seu trabalho esteve, desde o inicio aparentado a pintura dos Naifs e dos doentes mentais. De educação rigidamente protestante (seu pai era pastor), costumava associar passagens evangélicas aos seus quadros. Neles, exalta com exuberância suas impressões sobre a natureza influenciado pelas estampas japonesas de mestres como Hokusai e Hiroshigue. Os comentários sobre seu processo de trabalho constam das famosas cartas ao seu irmão Theo. (Ampliar clicando sobre as imagens para sentirmos a força e a velocidade da execução do desenho. Ao mesmo tempo a "luta" quase que "corporal" pelo dominio da técnica.)

"Estrada na campina - de Loodsduinen a La Haye" - carvão e tinta, bico de pena - 26 x 33,5 cm - La Haye 1882

Pode-se proclamar a boa saúde mental de Van Gogh, que durante toda a sua vida somente assou uma das mãos e, além disto, não passou de cortar a orelha esquerda. / Em um mundo em que todos os dias as pessoas comem vagina cozida na salsa verde ou sexo de recém-nascido, flagelado e enfurecido arrancado assim como sai do sexo materno, e não se trata de uma imagem mas de um fato muito freqüente, repetido diariamente e cultivado em toda a extensão da terra. É assim que se mantém - por delirante que possa parecer tal afirmação - a vida presente, na sua velha atmosfera de estupro, de anarquia, de desordem, de desvario, de descalabro, de loucura crônica, de inércia burguesa, de anomalia psíquica (porque não é o homem mas o mundo que se tornou anormal), de desonestidade deliberada e insigne hipocrisia, de sujo desprezo por tudo que cheira à nobreza, de reivindicação de uma ordem inteiramente baseada no cumprimento de uma primitiva injustiça, em resumo, do crime organizado. As coisas vão mal porque a conciência doente tem o máximo interesse, neste momento, em não sair de sua doença. / Desta maneira, uma sociedade deteriorada inventou a psiquiatria para defender-se das investigações de alguns iluminados superiores, cujas faculdades de adivinhação a incomodavam. Não, Van Gogh não era louco,mas seus quadros eram misturas incendiárias, bombas atómicas, cujo ángulo de visão comparado com o de todas as pinturas que faziam furor na época, teria sido capaz de transtornar gravemente o conformismo larval da burguesia. / ANTONIN ARTAUD / 1947 - Trecho extraido do livro "Van Gogh, o suicidado pela sociedade"

"Estudo de uma árvore" - crayon e aquarela - 50 x 69 cm - La Haye 1882

"Sorrow" - crayon - 45,5 x 29,5 cm - La Haye 1882

Tinha acordado cedo e vi os operários que chegavam na obra com um sol magnífico. Tu terias gostado de ver o particular aspecto desse rio de personagens negros, grandes e pequenos, primeiro na rua estreita onde havia muito pouco sol e depois na obra. Mais tarde tomei o café da manhã composto de pão seco e um copo de cerveja; é uma forma que Dickens recomenda aos que estão a punto de se suicidar, para afasta-los durante algum tempo do seu projeto... E mesmo que não estejamos com disposição de espírito para realiza-lo, e uma boa prática para meditar de quando em vez no quadro de Rembrandt "Os peregrinos de Emaús" / Cartas a Theo - Amsterdam 1877

"Ancião de casaco e cartola" - lápiz litográfico preto, tinta e bico de pena - 46 x 26 cm - La Haye 1882

"Página de croqui" - tinta - La Drenthe 1883

"Camponeses arando" - croqui,tinta - La Drenthe 1883

Pouco tempo atrás fiz uma excursão muito interessante, tendo passado seis horas numa mina. / É uma das minas mais velhas e perigosas dos arredores, chamase Marcasse. Esta mina tem má reputação por causa dos muitos acidentes acontecidos nela, tanto na descida como na ascensão, por causa do ar asfixiante e as explosões de gas grisú, da água subterránea e do afundamento de antigas galerias. È um lugar sombrío e a primeira vista tudo tem um aspecto melancólico e fúnebre. / Os operários desta mina são geralmente pessoas exauridas e febris, de aspecto fatigado, gastado, velho antes do tempo, as mulheres em geral estão descoloridas e murchas. Em volta da mina estão as moradias miseráveis dos mineiros, com algumas árvores mortas, fileiras de arbustos, montes de lixo e cinzas, montes de carvão inservível. Maris teria feito um quadro admirável. ______________________________________________________________ Não conheço melhor definição da palavra arte que esta: "Arte é o homem agregado à natureza"; a natureza, na realidade, na verdade, mas com um significado, com um conceito. com um caráter, que o artista faz ressaltar, da expressão "que redime", que desembaralha, liberta, ilumina. / Um quadro de Mauve ou de Maris ou de Israels fala mais claramente que a própria natureza. _______________________________________________________________ Uma melhora na minha vida - não aspirava, não tinha necessidade dela por acaso? - Quisera melhorar ainda mais. Precisamente porque o aspiro, tenho medo de "remédios piores que o mal". Podemos ser rigorosos com um doente depois que descobre o valor do seu médico, ou se prefere não ser curado ao contrário por um charlatão? / Cartas a Theo - Borinage 1879 - 1880

"Pescadores na praia" - croqui - tinta, bico de pena - La Haye 1882

"Personagens nas ruas de Nuenen" - croqui, carvão - 35,5 x 20,5 cm - Nuenen 1885

"Lavoura e moinho" - carvão - 44,5 x 56,5 cm - Nuenen 1885

"
Não posso me cuidar daquilo que as pessoas pensam de mim, é necessário que continue "adiante", é nisto que devo pensar. / La fora está tudo muito triste, os campos são blocos de terra negra com um pouco de neve, e a miude jornadas nas quais não à mais que bruma e lodo; no entardecer, o sol vermelho, e na manhã os corvos, a relva resecada e a verdura murcha que apodrecem, pequenos bosques negros e os galhos dos álamos e dos sauces ourizados, contra um céu triste, como uma massa de arame farpado. Isto, só o enxergo de passagem, mas está completamente em harmonia com os interiores muito sombrios nestas escuras jornadas de inverno. / Está também em harmonia com as fisionomias dos camponeses e dos tecelões. Não os escuto se queixarem, mas levam uma vida muito rude. Suponhamos um tecelão que trabalha muitas horas, que faça uma peça de sesenta varas numa semana. No entanto ele tece, é necessário que uma mulher enrole a linha nos carreteis; ou seja, são duas pessoas as que trabalham e devem viver desse trabalho. Sobre esta peça, o tecelão ganha, nessa semana, quatro florins e meio, e quando a entrega ao fabricante, costumam lhe dizer que só receberá outra peça para tecer em oito ou quince dias. Conseqüentemente, o salário é baixo e o trabalho escasso. Por causa disto, essa gente costuma viver nervosa e irrequieta. É um estado de ánimo diferênte ao que conhecí nos mineiros, num ano em que ouve greve e muitos acidentes. / Cartas a Theo - Nuenen 1883 - 1885

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

"Cabana no campo" - croqui, tinta - La Drenthe 1883

"Camponesa" - carvão - 52,5 x 43,5 cm - Nuenen 1885

"Retrato de camponesa com toca" - crayon, tinata sépia e bico de pena - 14 x 10,5 cm - Nuenen 1885

"Campones com boné" - tinta sépia, bico de pena - 16 x 10 cm - Nuenen 1884

"Camponeses, estudos de mãos" - carvão - 21 x 34 cm - Nuenen 1885

"Camponesa na lavoura" - carvão - 45 x 53 cm - Nuenen 1885

Assim o universo total do artista expressionista torna-se visão. Ele não vê, mas percebe. Ele não descreve, acumula vivèncias. Ele não reproduz, ele estrutura (gestaltet). Ele não colhe, ele procura. Agora não existe mais a cadeia dos fatos: fábricas, casas, doença, prostitutas, gritaria e fome. Agora existe a visão disto. Os fatos têm significado somente até o ponto em que a mão do artista o atravessa para agarrar o que se encontra além deles... / Cada homem não é mais indivíduo ligado à obrigação, à moral, à sociedade, à familia. Nesta arte, ele se torna somente o mais grandioso ou o mais humilhado: ele se torna homem. / Aquí temos o novo e o inaudito em relação às épocas anteriores. Aqui o pensamento mundial burgués finalmente não se pensa mais. Aqui não existem mais as ligações que tornam opacas as imagens do humano. Não existem mais histórias nupciais, tragedias surgidas do conflito das convenções e com a busca da liberdade, peças do meio ambiente (milieu) chefes rígidos, oficiais ociosos, marionetes que, penduradas nos arames das concepções psicológicas do mundo, brincam com leis, pontos de vista, erros e vícios dessa sociedade feita e construída pelos homens. / Através desses substitutos a mão do artista agarra cruelmente. Sucede que elas eram fachadas. Do bastidor e do jogo do sentimento tradicional falsificado não sai nada, somente o homem. / Kasimir Edschmid - Manifesto Expressionista - 1918
Modificar a impressão ótica do mundo dos objetos através de uma aritmética transcendente do meu interior, essa é a ordem. / Max Beckman - pintor expressionista 1938

"Ninho" - croqui - tinta sépia, bico de pena - Nuenen 1885

"Estudo de nu" - crayon - 50 x 39,5 cm - Anvers 1886

"Autorretrato" - crayon - 32 x 24 cm - París 1886

"Croqui de camponeses na lavoura" - lápiz sangüina - 23,5 x 32 cm - Auvers-sur-Oise 1890

"Croqui de personagens" - crayon - 43,5 x 27 cm - Auvers-sur-Oise 1890

"Sinto em mim um fogo que não posso deixar extinguir, que, ao contrário, devo atiçar, ainda que não saiba a que espécie de saída isso vai me conduzir. Não me espantaria que essa saída fosse sombría. Mas em certas situações vale mais ser vencido do que vencedor..." - Vincent Van Gogh

"Campina de Arles" - tinta sépia, bico de pena - 26 x 34,5 cm - Arles 1888

"Camponeses na lavoura" - nanquim sépia, bico de pena - 26 x 34,5 cm - Arles 1888

"Ruela de Saintes-Maries-de-la-Mer - tinta sépia e caneta de bambú - 30,5 x 47 cm - Arles 1888

"O carteiro Joseph Roulin" - crayon e tinta sépia, bico de pena - 31,5 x 24 cm - Arles 1888

"Paisagem com vila" - crayon e guache - 43,5 x 54 cm - Auvers-sur-Oise 1890

Eu estou "atravessado" na vida e o meu estado mental não somente "é" mas tem "sido" também abstrato, de modo que qualquer coisa que se faça por mim, não "posso pensar" em equilibrar minha vida. Quando "devo"seguir uma regra como aquí no hospício, me sinto tranqüilo. E no alistamento, aconteceria mais ou menos a mesma coisa. Claro que aquí me arrisco muito a ser recusado, pois sabem que sou alienado ou pelo menos epiléptico, (tenho ouvido dizer que existem 50 mil epilépticos na França, dos quais somente 4.000 internados; de modo que não é tão extraordinário) quem sabe em París, falando com Détaille por exemplo ou Caran d'Ache, me incorporem logo. Poderá parecer uma cabeçada peor que a outra; em fim reflitamos, mas para atuar. Na espera, faço o que posso por trabalhar "não interessa no qué", incluindo a pintura; pois tenho uma boa vontade aceitável. Mas o dinheiro que custa a pintura... é algo que me esmaga debaixo de uma sensação de dívida e covardia; e sería conveniente que isto acabase o mais depressa possível. / Arles 1888 - 1889 / __________________________________________________________________ Por qué nos estamos aquí e isto é tudo, ou pelo menos tudo que posso dizer num momento de relativa crise. Um momento em que as coisas estão muitos tensas entre marchands de quadros de artistas mortos e artistas vivos. Pois bem, o meu trabalho; arrisco a vida e a minha razão mais ou menos destruida - bom - mas tú não estás entre os marchands de homens, que eu saiba; e podes tomar partido, acho, procedendo realmente com humanidade, mas, o que tú queres? / Cartas a Theo Auvers-sur-Oise 1890

"A estrada de Tarascon" - tinta sépia, bico de pena - 24,5 x 22 cm - Arles 1888

"O jardim do hospital" - crayon sanguina - 45,5 x 59 cm - Arles 1889

"Chafariz no pátio do asilo" - tinta sépia, bico de pena - 49,5 x 46 cm - Saint-Rémy 1889

Se os desenhos que te envío são muito duros, é porque os tenho realizado de tal forma que mais tarde, se ficarem, possam me servir de referência para a pintura. Este pequeno jardim de aldeão vertical é soberbo de cor em relação a natureza, as dálias são de um púrpura rico e escuro, a dupla fileira de flores é cor de rosa e verde de um lado e alaranjado quase sem verdor do outro. No meio, uma dália de um branco pálido e um pequeno granate com flores do mais brilhante alaranjado vermelho, com frutos verde-amarelos. O terreno cinza, as altas canas "cannes" de um verde azulado, as figueiras esmeralda, o céu azul, as casas brancas com janelas verdes e telhados vermelhos; a manhã de sol pleno, a tarde inteiramente banhada de sombra, levada e projetada pelas figueiras e as canas. / Cartas a Theo - Arles 1888

"Jardim florido" - tinta sépia, bico de pena - 61 x 49 cm - Arles 1888

"Rocha e ruinas de Montmajour" - tinta sépia, bico de pena - 47,5 x 59 cm - Arles 1888

"A campina de Crau vue de Montmajour" - tinta sépia, bico de pena - 49 x 61 cm - Arles, 1888