O propósito deste blog é o de mostrar o trabalho do ilustrador,independente das regras impostas pelo mercado,nas quatro disciplinas praticadas por mim, em diferentes momentos e veículos: A Caricatura na Imprensa,A Ilustração na Imprensa,A Ilustração Editorial e O Poema Ilustrado. Também são mostradas modalidades diferentes das mesmas propostas como: Montagens das exposições e a revalorização do painel mural, através das técnicas de reprodução digital em baner.
domingo, 18 de janeiro de 2009
PROCURA DA POESIA /
Não faças versos sobre acontecimentos./
Não há criação nem morte perante a poesia./
Diante dela, a vida é um sol estático,/
Não aquece nem ilumina./ As afinidades, os aniversários,
os incidentes pessoais não contam./ Não faças poesia
com o corpo / esse exelente, completo e confortável corpo,
tão infenso à efusão lírica./ Tua gota de bile, tua careta de gozo
ou de dor no escuro / são indiferentes./ Nem me reveles teus
sentimentos./ que se prevalecem do equívoco e tentam
a longa viagem./ O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz./
O canto não é o movimento das máquinas nem
o segredo das casas./ Não é música ouvida de passagem,
rumor do mar nas ruas junto â linha de espuma./
O canto não é a natureza nem os homens em sociedade./
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam./
A poesia (não tires poesia das coisas) elide sujeito e objeto.
Não dramatizes, não invoques, não indagues./
Não percas tempo em mentir. Não te aborreças./
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante./
vossas mazurcas e abusôes, vossos esqueletos de familia /
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.//
Não recomponhas / tua sepultada e merencória infância./
Não osciles entre o espelho e a / memória em dissipação./
Que se dissipou, não era poesia. Que se partiu, cristal não era.
Penetra surdamente no reino das palavras./
Lá estão os poemas que esperam ser escritos./
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superficie intata./
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário./
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los./
Tem paciência, se obscuros. Calma se te provocam./
Espera que cada um se realize e consume /
com seu poder de palavra / e seu poder de silêncio./
Não forces o poema a desprender-se do limbo./
Não colhas no chão o poema que se perdeu./
Não adules o poema. Aceita-o como ele aceitará
su forma definitiva e concentrada no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras / Cada uma /
tem mil faces secretas sob a face neutra / e te pergunta,
sem interesse pela resposta / pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave? // Repara: ermas de melodia e conceito,
elas se refugiaram na noite, as palavras. / Ainda úmidas e
impregnadas de sono,/ rolam num río difícil e se transformam
em desprezo.
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