segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A bomba / tem horas que sente falta de outra para cruzar
A bomba / furtou e corrompeu elementos da natureza e mais furtara e corrompera
A bomba / multiplica-se em ações ao portador e em portadores sem ação
A bomba / chora nas noites de chuva, enrodilha-se nas chaminés
A bomba / faz week-end na Semana Santa
A bomba / brinca bem brincado o carnaval
A bomba / tem 50 megatons de algidez por 85 de ignomínia
A bomba / industrializou as térmites convertendo-as em balísticos interplanetários
A bomba / sofre de hérnia estranguladora, de amnésia, de mononucleose, de verborréia
A bomba / não é séria, é conspicuamente tediosa
A bomba / envenena as crianças antes que comecem a nascer
A bomba / continua a envenená-las no curso da vida
A bomba / respeita os poderes espirituais, os temporais e os tais
A bomba / pula de um lado para outro gritando: eu sou a bomba
A bomba / é um cisco no olho da vida, e não sai
A bomba / é uma inflamação no ventre da primavera
A bomba / tem a seu serviço música estereofônica e mil valetes de ouro, cobalto e ferro além de comparsaria
A bomba / tem supermercado circo biblioteca esquadrilha de mísseis, etc.
A bomba / não admite que ninguém a acorde sem motivo grave
A bomba / quer manter acordados nervosos e sãos, atletas e paralíticos
A bomba / mata só de pensarem que vem aí para matar
A bomba / dobra todas as linguas à sua turva sintaxe
A bomba / saboreia a morte com marshmallow
A bomba / arrota impostura e prosopopéia política
A bomba / cria leopardos no quintal, eventualmente no living
A bomba / é podre
A bomba / gostaría de ter remorso para justificar-se, mas isso lhe é vedado
A bomba / pediu ao Diabo que a batizasse e a Deus que lhe validasse o batismo
A bomba / declara-se balança de justiça arca de amor arcanjo de fraternidade
A bomba / tem um clube fechadíssimo
A bomba / pondera com olho neocrítico o Prêmio Nobel
A bomba / é russuramericanenglich mas agradam-lhe eflúvios de París
A bomba / oferece na bandeja de urânio puro, a titulo de bonificação, átomos de paz
A bomba / não terá trabalho com as artes visuais, concretas ou tachistas
A bomba / desenha sinais de trânsito ultreletrônicos para proteger velhos e criancinhas
A bomba / não admite que ninguém se dê ao luxo de morrer de cáncer
A bomba / é cáncer
A bomba / vai à lua, assovia e volta
A bomba / reduz neutros e neutrinos, e abana-se com o leque da reação em cadeia
A bomba / está abusando da glória de ser bomba
A bomba / não se sabe quando, onde e porque vai explodir, mas preliba o instante inefável
A Bomba / fede
A bomba / é vigiada por sentinelas pávidas em torreões de cartolina
A bomba / com ser uma besta confusa / da tempo ao homem para que se salve
A bomba / não destruirá a vida
O homem (tenho esperança) liquidará a bomba